Três Ofícios: Profeta, Sacerdote e Rei

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quando o homem foi criado, “possuía o equivalente aos ofícios de profeta, sacerdote e rei: tinha conhecimento de Deus, podia entrar em relações pessoais com Ele e tinha autoridade como chefe da família e sobre os animais inferiores. Tendo pela queda perdido a posse plena desses bens, embora conservasse a possibilidade de as reaver, coube a Jesus restaurá-los Na revelação de Cristo o Salvador, Ele se manifesta em suas três ocupações: Profeta, sacerdote e rei. Nos dias de Moisés, foi escrito de Cristo enquanto profeta: “Eu levantarei um Profeta de entre os irmãos, como você, e porei minhas palavras na boca dele. E Ele falará tudo aquilo que eu lhe mandar. E para o que não escutar minhas palavras que aquele Profeta falará em meu Nome, eu lhe pedirei conta". Deut. 18:18 e 19. Esta idéia continua presente ao longo das Escrituras, até Sua vinda.Considerando-o como Sacerdote, nos dias de Davi se escreveu de Cristo: “Jeová jurou, e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque” Salmos 110:4. Esta idéia continua presente nas Escrituras, não somente até Sua vinda, mas mesmo depois dela.E de Cristo como rei, se escreveu nos tempos de Davi: “Eu tenho ungido meu rei sobre Sião, monte de minha santidade”. Salmos 2:6. E essa noção perdurou igualmente nas Escrituras posteriores, até sua vinda, depois dela e mesmo até o fim do sagrado livro. De maneira que as Escrituras apresentam claramente a Cristo em seus três ofícios: Profeta, Sacerdote e Rei.Esta tríplice verdade é amplamente reconhecida por todos quantos estejam familiarizados com as Escrituras, mas em relação com ela, há uma verdade que não é tão conhecida: que Cristo não é as três coisas ao mesmo tempo. Os três ofícios são sucessivos. Primeiramente é Profeta, depois é Sacerdote e finalmente, Rei.

Primeiro Profeta, Depois Sacerdote e, Finalmente, Rei
Foi “Profeta” quando veio ao mundo como Mestre enviado de Deus, o verbo feito carne e morando entre nós, “cheio de graça e de verdade.” Atos 3:19-23. Mas então, não era sacerdote, nem o haveria sido se houvesse permanecido na terra, já que está escrito: “se estivesse sobre a terra, nem ainda seria sacerdote” Heb. 8:4. Mas, havendo terminado seu trabalho em sua obra profética sobre a terra, e tendo subido ao céu, à destra do trono de Deus, é agora e aí nosso “Sumo Sacerdote”, que está “vivendo sempre para interceder por nós”, e lemos: “Ele edificará o templo de Jeová, e Ele levará glória, e se assentará e dominará em seu trono, e será Sacerdote em seu trono; e conselho de paz haverá entre ambos” Zac. 6:12 e 13.

Assim como não era Sacerdote enquanto estava na terra como profeta, tampouco hoje é Rei no céu enquanto sacerdote. É certo que reina, no sentido e no fato de que está assentado no trono do Pai, sendo assim o Sacerdote real e o Rei Sacerdotal segundo a ordem de Melquisedeque, que, ainda que Sacerdote do Deus altíssimo, era também Rei de Salém, ou seja, Rei de paz. Heb. 7:12. Mas esse não é o ofício de Rei nem o trono a que se refere e contempla a profecia e a promessa, quando faz menção de sua função específica de Rei. A coroa e trono de Davi foram interrompidos quando, por causa da profanação e maldade do povo de Judá e Israel, estes foram levados cativos a Babilônia, momento em que se fez a declaração: “E tu, profano e ímpio príncipe de Israel, cujo dia virá no tempo da extrema maldade, assim diz o Senhor Jeová: Tira o diadema, levanta a coroa: esta não será mais: exalta ao humilde e humilha o soberbo. Ao revés, ao revés, ao revés a porei, e não será mais, até que venha aquele a quem pertence de direito, e a ele a entregarei.” Eze. 21:25-27.

Desta forma e neste tempo, o trono, coroa e diadema do reino de Davi, ficaram interrompidos “até que venha aquele a quem pertence por direito”, momento em que lhe serão entregues. E aquele que possui o direito não é outro que Cristo, “o filho de Davi”. E esse “até que venha”, não é sua primeira vinda, em sua humilhação como varão de dores, experimentado em quebrantamento; e sim sua Segunda vinda, quando vier em sua glória como “Rei de reis e Senhor de Senhores”, quando seu reino esmiuçar e consumir todos os reinos da terra, ocupando-a em sua totalidade e permanecendo para sempre.

Veio como Profeta, é Sacerdote e Será Rei
É certo que quando o bebê de Belém nasceu nos nasceu um rei, e foi e tem sido rei para sempre, e por direito próprio. Mas é igualmente certo que esse ofício real, diadema coroa e trono da profecia e da promessa, não os tomou então, nem os tem tomado ainda, nem os tomará até que venha outra vez. Será então quando tome sobre sí mesmo o poder na terra, e reinará plena e verdadeiramente em todo o esplendor de Sua glória e função régia. Porque nas Escrituras se especifica que depois que “o juiz se sentou, e os livros foram abertos”, “ eis aqui...como um filho de homem que vinha, e chegou até o ancião de dias...e lhe foi dado senhorio, e glória, e o reino; e todos os povos, nações e línguas lhe serviram; seu senhorio é senhorio eterno que não passará. Dan. 7:13 e 14. É então quando possuirá verdadeiramente “o trono de Davi seu pai: e reinará na casa de Jacó para sempre; e de seu reino não haverá fim.” Luc. 1:32 e 33.Fica assim evidente pela consideração da Escritura, da promessa e da profecia em relação com seus três ofícios, que estes não são ofícios consecutivos. Não são simultâneos, não ocorrem ao mesmo tempo. Nem sequer dois dos três. Primeiramente veio como profeta, atualmente é sacerdote e será rei quando regressar. Terminou sua obra como profeta antes de ser sacerdote, e terminará sua obra como sacerdote antes de vir como Rei. E precisamente da forma em que foi, é e será, é como devemos considerá-lo.Dito de outro modo: quando esteve no mundo como profeta, assim era como o povo devia considerá-lo. Assim é também como devemos contemplá-lo neste período, pela simples razão de que não era sacerdote enquanto esteve na terra. Mas passado este tempo, foi feito sacerdote. É o que agora é. É tão certamente sacerdote na atualidade, como foi profeta quando esteve na terra.

Em seu ofício e obra de sacerdote, devemos considerá-lo tão certamente, tão cuidadosa e continuamente enquanto que como tal sacerdote, como deviam e devemos considerá-lo em seu ofício de profeta, enquanto esteve na terra.Quando voltar de novo em sua glória e na majestade de seu reino, sobre o trono de Davi seu pai, então o consideraremos como rei, que é o que em toda justiça será. Mas só neste então é que poderemos considerá-lo verdadeiramente em seu ofício real, no pleno sentido do que implica sua realização. No que se refere a sua realeza, podemos hoje contemplá-lo somente como aquilo que será um dia. Como profeta, como o que já foi. Mas em seu Sacerdócio, devemos hoje considerá-lo como o que é agora, já que isso é o que realmente é hoje. É o único ofício em que no presente momento se manifesta; e esse é precisamente, e não outro, o ofício no qual podemos considerar sua obra e pessoa.

O Ofício Profético
A principal função do profeta no AT é levar ao povo a mensagem da parte de Deus. Ele é reconhecido como ‘homem de Deus’ e ‘mensageiro do Senhor’. Profeta “é alguém que vê coisas, isto é, recebe revelações da parte de Deus, que está a serviço de Deus, particularmente como mensageiro, e que fala em Seu nome”. “A Escritura é clara a respeito do fato de que Cristo tem este ofício. Moisés profetizou que Deus levantaria um profeta semelhante a ele (Deut 18.15-19); e Pedro declara que essa profecia se cumpriu em Cristo (At 3.22)” [4]. Também “Ele fala de Si como profeta em (Lc 13.33)”.

Além disso, alega que traz uma mensagem do Pai, (Jo 8.26-28; 12.49s; 14.10,24; 15.15; 17.8,20), prediz coisas futuras, (Mt 24.3-35); (Lc 19.41-44), e fala com singular autoridade, Mt 7.29” [5]. Até o povo reconhece Jesus como sendo profeta, (Mt 21.11,46); (Lc 7.16); (Jo 3.2; 9.17), entre outros textos sagrados. “Cristo exerce o ofício de profeta, revelando à igreja, em todos os tempos, pelo seu Espírito e Palavra, por diversos modos de administração, toda a vontade de Deus, em todas as coisas concernentes à sua edificação e salvação”.

O Ofício Sacerdotal
A diferença do profeta e do sacerdote consistia no seguinte: o primeiro era o representante de Deus perante o povo ao passo que o segundo era o representante do povo perante Deus.

As verdadeiras características do sacerdote consistiam no seguinte: “(a) o sacerdote é tomado dentre os homens para ser seu representante; (b) é constituído por Deus, (Hb 5.4); (c) age no interesse dos homens nas coisas pertencentes a Deus, isto é, nas coisas religiosas; (d) sua obra especial consiste em oferecer dádivas e sacrifícios pelos pecados”. O sacerdote também fazia a intercessão pelo povo (Hb 7.25) e os abençoava em nome de Deus (Lv 9.22). “É interessante notar, ainda, que os sacerdotes só entravam no santuário, para fazerem intercessão pelos pecadores, depois do sacrifício feito em seu favor; visto que só nessas condições Deus lhes poderia ser propício. Nisso foi também tipificado que a obra intercessora de Cristo tem por base o seu sacrifício expiatório, como ficou revelado no fato de que a cruz precedeu a sua ascensão ao céu - o posto da intercessão”.

A escritura mais uma vez é clara com respeito a este ofício de Cristo. “O Velho Testamento prediz e prefigura o sacerdócio do Redentor vindouro” (Sl 110.4 e Zc 6.13). “No Novo Testamento há somente um único livro em que ele é chamado sacerdote, qual seja, a Epístola aos Hebreus, mas ali o nome é repetidamente aplicado a Ele, (3.1; 4.14; 5.5; 6.20; 7.26; 8.1). Ao mesmo tempo, muitos outros livros no Novo Testamento se referem à obra sacerdotal de Cristo”. “Cristo exerce o ofício de sacerdote, oferecendo-se a si mesmo uma vez em sacrifício, sem mácula a Deus, para a propiciação pelos pecados do seu povo, e fazer contínua intercessão por esse mesmo povo”.

O Ofício Real
Todo o rei precisa de um reino. No caso de Cristo, dele é o Reino dos Céus, ou, o Reino de Deus. “A natureza do Reino é exposta de várias maneiras. Negativamente, é indicado com clareza que o reino não é um reino externo e natural dos judeus, (Mt 8.11s; 21.43); (Lc 17.21); (Jo 18.36). Positivamente, aprendemos que só se pode entrar neste reino pela regeneração, (Jo 3.3,5); que ele é como uma semente lançada na terra, (Mc 4.26-29), como a semente de mostarda, (Mc 4.30), e como fermento, (Mt 13.33. Está nos corações das pessoas, (Lc 17.21), é ‘justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo, (Rm 14.17), e não é deste mundo, mas é um reino caracterizado pela verdade, (Jo 18.36).

“Os cidadãos desse reino são descritos como humildes de espírito, mansos, misericordiosos, pacificadores, limpos de coração e como os que têm fome e sede de justiça”. Os súditos desse reino “são libertados do poder das trevas (Cl 1.13), e dessa maneira estão livres para viver retamente (Rm 14.17). O reino de Cristo é um reino eterno (2Pe 1.12), mas ainda não foi consumado ou realizado (Lc 22.16; 1 Co 15.24-28)”. Perante o Rei Jesus, todo o joelho se dobrará, quer em lealdade voluntária ou sob julgamento final (Rm 14.11; Fp 2.9-11). “Como os outros ofícios, também o de Rei, Cristo o exerceu antes da sua encarnação, durante o estado de humilhação, e continua a exercer no sue estado de exaltação”.

“Cristo exerce o ofício de rei, chamando do mundo um povo para si, dando-lhe oficiais, leis e disciplinas, para visivelmente o governar; concedendo a graça salvadora aos seus eleitos; recompensando sua obediência e corrigindo-os em conseqüência de seus pecados. Preservando-os e sustentando-os em todas as suas tentações e sofrimentos, restringindo e subjugando todos os seus inimigos, e poderosamente ordenando todas as coisas para a sua própria glória e para o bem de seu povo; e também tomando vingança contra os que não conhecem a deus nem obedecem ao Evangelho” de exaltação”. “Cristo exerce as funções de Rei, sujeitando-nos a si mesmo, governando-nos e protegendo-nos, contendo e subjugando todos os seus e os nossos inimigos”.

Não se trata simplesmente de que estes três ofícios, de profeta, sacerdote e rei sejam sucessivos, e sim, que mais que isso, o são com um propósito. E com um propósito vinculado a esta precisa ordem de sucessão em que se dão: profeta, sacerdote e rei. Sua função como profeta foi preparatória e essencial para sua função como sacerdote, e suas funções de profeta e sacerdote, nesta ordem, são preparatórias para sua função como rei. É essencial que nós o consideremos em seus ofícios pela devida ordem.

ESCRITO POR: Nicélia Rodrigues Veloso



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